Uma análise social das filas e aglomerações

Filas são um tabu em nossa sociedade. Elas exigem um nível de paciência grande. Revelam problemas na gestão e na logística dos setores públicos e privados. Além de gerarem sentimentos variados que vão desde ao desânimo até a esperança.    

As filas podem tomar diferentes formas, uma vez que podem ser presenciais com as pessoas uma atrás das outras, podem ser geradas por senhas ou até mesmo por tecnologias de comunicação como telefones e internet. Mas vamos refletir sobre as filas presenciais, motivo de preocupação nessa época de desafios em relação à saúde. 

Este movimento que é a formação da fila pode ser considerado um fenômeno social. A fila tem uma função organizacional, porém muitas vezes mostra as falhas de atendimento ou organização dos que atendem as pessoas. A fila também pode ser formada por pessoas que esperam ser atendidas rapidamente ou entrar primeiro em algum lugar, pode ser formada devido a produtos ou serviços limitados, dentre outras coisas. 

Nessa época de Coronavírus, estamos presenciando a formação de filas para entrar nos supermercados, comprar álcool gel, tomar vacina, para ser atendido no pronto socorro, dentre outras coisas ligadas à saúde e alimentação. 

Iglesias e Gunther (2009), dois psicólogos que falam sobre o tema consideram que quanto maior a densidade populacional maior é a competição pelos recursos que as cidades podem oferecer, a demanda maior que a oferta implica no surgimento de filas de espera. (p. 2). 

As filas exigem muito do ser humano, exigem espaço, tempo, paciência, disposição, produtos e serviços. No âmbito das ciências biomédicas as filas exigem muito tempo e paciência e por sempre lidarem com a saúde, qualquer tempo perdido pode ser muito precioso. Isso torna o gerenciamento desses tipos de fila extremamente complexo.

Ao fazer uma análise sobre as filas Iglesias e Gunther (2009) afirmam que elas são objeto de pesquisas de qualidade e gerenciamento, entretanto não existem muitas pesquisas sobre as relações psicossociais. Entretanto eles acreditam que as filas são palcos para este tema, pois diferentes pessoas mostram diferentes comportamentos, sem contar que as filas são regidas por normas e papéis definidos e estão sujeitas a valores, à cultura, ao ambiente, dentre outras coisas.   

Atualmente as filas têm sido regidas por rigorosos controles higiênicos, como manter a distância. Porém isso extrapola apenas questões de saúde e higiene ao passo que envolve muitas questões psicossociais como distribuição de renda, abastecimento de suprimentos, sentimentos de medo, preocupação, proteção, esperança, avidez, dentre outros.

Acredito que nunca havíamos pensado tanto no gerenciamento de filas como nesse período. Nunca havia pensando na fila como um fenômeno social e como tendo tantas questões sociais e psicológicas envolvidas. E aqui cabem algumas reflexões chave, como: O que levam as pessoas a começar uma fila? Algumas filas são necessárias? Será que são um costume das pessoas ou uma regra realmente?  Fiquei pensando nas leis de preferência das filas e se elas estão sendo respeitadas nesse período.  Será que se o atendimento em alguns lugares fosse melhor elaborado as filas surgiriam? 

Não sei se são questões pertinentes, mas nos levam a refletir sobre direitos, política, desenvolvimento humano, emoções, dentre muitas outras questões. 

O que você sente ao ver uma fila? Já chegou a pensar nestas questões?


Referência Bibliográfica:

IGLESIAS, Fabio; GÜNTHER, Hartmut. A espera na vida urbana: uma análise psicossocial das filas.  Psicologia em Estudo. vol. 14 nº 3. Maringá Jul/Set. 2009. 


Texto de Natalia Ghidelli

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